Grande entrevista Com Valdomiro Minoru Dondo

Nascido no Brasil e naturalizado angolano, Valdomiro Minoru Dondo, à frente dos negócios do “gigante” Grupo VMD, partilha com os leitores da Líder a sua visão optimista sobre o panorama económico de Angola. O empresário reconhece o potencial do país enquanto pólo atractivo para o investimento nacional e estrangeiro e traça perspectivas para o futuro

Texto: Pedro Saminhombo Fotos: Paixão Lemba

Com 37 anos a operar no mercado, é um colosso dos negócios em Angola. Liderado por Valdomiro Minoru Dondo, o Grupo VMD detém investimentos e participações em mais de 20 empresas destacadas, entre elas o Banco de Investimento Rural, o Banco Comercial do Huambo, o Belas Shopping, o Luanda Medical Center e a Macon Transportes.

Este império começou a ser erguido em 1984, quando Minoru Dondo visitou o nosso país pela primeira vez na qualidade de director de Trading para antiga rede brasileira de supermercados Disco S.A. Três anos mais tarde, e com o comércio de alimentos básicos como principal actividade, aqui se instalou. Estava fundado o Grupo VMD.

Líder: O Grupo VMD está no mercado nacional há mais de 35 anos. Se olharmos para o retrovisor, que abordagem faz do presente?

Valdomiro Minoru Dondo: A abordagem é positiva, apesar dos obstáculos que todos os mercados apresentam. Angola tem vindo a passar por uma fase desafiante em termos económicos, mas a verdade é que se trata de um mercado onde muitos projectos se implementam e seguem um curso positivo, com apresentação de bons resultados para todos os stakeholders. Recordo que o Fundo Monetário Internacional (FMI) previa, no final do ano passado, um crescimento da economia angolana acima dos 3% em 2024, assim como o incremento da diversificação da sua economia; e que as Nações Unidas actualizaram a taxa de crescimento para 1,5%, ainda assim uma taxa de crescimento positiva quando comparada

com a de outros países da região se considerarmos os obstáculos que se colocam à economia mundial, designadamente às cadeias de abastecimento e à aquisição de matérias-primas.

Para além das perspectivas para a economia, em termos percentuais, há também a registar o facto de Angola estar entre os cinco destinos mais atractivos em África para o investimento estrangeiro. Podemos destacar os novos projectos de exploração petrolífera e a aposta nas energias renováveis, designadamente na solar, onde os americanos estão a investir fortemente.

Líder: Enquanto investidor, que lições aprendeu durante o percurso em Angola?

VMD: Aprendi que a resiliência e a confiança, se suportadas num trabalho consistente e na constituição de equipas competentes e motivadas, nos conduzem a bons resultados. Ainda que o vento nem sempre sopre a favor, há que ter capacidade para não nos desviarmos dos objectivos que traçamos e de aspirar continuamente a contribuir para o bem comum dos mercados e das sociedades em que operamos.

Líder: Se olharmos para as reformas económicas em curso, que antevisão faz dos próximos 5 ou 10 anos?

VMD: Angola vai continuar a reforçar a sua importância enquanto país e enquanto mercado na África Austral. Veja-se a aposta americana no país e a importância atribuída ao Corredor do Lobito e ao papel que pode e deve desempenhar nas ligações comerciais intercontinentais e no estímulo ao desenvolvimento das economias de Angola, da República do Congo e da Zâmbia, assim como aos seus empresários. Atente-se no facto de o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, ter incluído Angola no seu último périplo africano, realizado em Janeiro passado, e ter reunido não só com o Presidente da República como também com as empresas de capital americano e com as que estão directamente ligadas aos projectos estruturantes do país.

Isto significa que Angola é relevante não só na e para a África Austral como para o resto do mundo. Por isso, há que percebê-lo e, a partir daí, trabalhar em consonância para contribuir para o desenvolvimento da sua economia, das suas populações e do país, de um modo geral.

Líder: O que falta fazer para melhor o ambiente de negócios?

VMD: Manter o caminho da facilitação e da desburocratização encetada pelo Governo e com isso diminuir a burocracia, que é o maior entrave à implementação de novos projectos e à solidificação dos que se encontram em on going.

Líder: O ambiente de negócios é imprescindível para estimular o investimento privado e o desenvolvimento económico. A actual Lei de Investimento Privado satisfaz os anseios dos empresários nacionais?

VMD: Acredito que sim, embora os empresários desejem sempre mais e melhores condições. Angola, até porque tem um historial positivo no sector do Oil & Gas, no qual trabalha com os maiores operadores mundiais, sempre se posicionou como um mercado e um país cumpridor dos contratos que assina e no qual é, também por isso, possível investir com resultados.

Líder: Em que aspectos esta Lei pode ser melhorada ao ponto de satisfazer os investidores nacionais e estrangeiros?

VMD: Creio que a Lei, como disse anteriormente, está bem concebida. Cabe-nos a todos conhecê-la, entendê-la e implementá-la de forma correcta e séria. Acrescente-se que Angola tem outras duas boas leis que complementam a do Investimento Estrangeiro – a das actividades petrolíferas e a das actividades diamantíferas. São documentos de excelente qualidade, que têm possibilitado o investimento nestes sectores, designadamente com o retomar dos processos de licitação petrolífera em curso que arrancaram em 2019, e com o arranque de novos projectos nas diferentes áreas da mineração.

Líder: Em quanto está avaliada a sua fortuna actualmente?

VMD: Não faz sentido responder a essa pergunta. O que faz sentido é perceber-se que como investidor tenho capacidade para continuar a trabalhar nas áreas já identificadas e noutras que venhamos a considerar adequadas e rentáveis. E que, tal como no passado, continuo a acreditar em Angola e nos angolanos e nas suas potencialidades. Que continuo e continuamos – enquanto grupo – firmes neste mercado.

Líder: Quais são os sectores da economia nacional onde o Grupo VMD tem investimentos?

VMD: Estamos presentes na construção civil, no mercado financeiro, na logística e distribuição de medicamentos, no transporte de passageiros, no imobiliário e na mineração.

Líder: Ao todo, quanto é que o Grupo investiu em Angola desde a sua criação?

VMD: O suficiente para criarmos valor acrescentado para o accionista, para o Estado angolano e para as populações no geral. Temos tido a capacidade de criar emprego e de gerar rendimentos mensais para um número significativo de angolanos nos diferentes sectores em que actuamos.

Líder: Nos últimos cinco anos, que novos investimentos foram feitos pelo Grupo?

VMD: Entre outros, destaco a construção civil e a mineração.

Líder: Quais são as empresas mais rentáveis do Grupo?

VMD: Preferimos não divulgar informações confidenciais das nossas operações, porém, podemos afirmar que estamos muito satisfeitos com o crescimento da nossa actividade na construção civil, no transporte e logística e no mercado financeiro.

Líder: Quanto é que o Grupo investiu para explorar ouro em Cabinda?

VMD: O investimento total, até o momento, foi de USD 30 milhões, aplicados nas duas concessões. Embora ambas tenham quase a mesma capacidade de produção, o investimento em Buco-Zau foi maior do que o realizado em Lufo, onde conseguimos evitar muitos dos erros de investimento e desenvolvimento da operação que ocorreram em Buco-Zau.

Líder: O resultado decorrente deste investimento satisfaz a ambição do Grupo?

VMD: Estamos muito satisfeitos e entusiasmados com os indicadores minerais da região. Estamos a explorar o depósito secundário das concessões, que apresentam resultados satisfatórios. Entretanto, a ambição do Grupo é a exploração e produção do depósito primário. Em paralelo à produção do depósito secundário, estamos a realizar sondagens para calcular precisamente o tamanho do depósito primário das minas.

Líder: Quais são os resultados financeiros do investimento?

VMD: Ainda é difícil mensurar com precisão o resultado financeiro, pois fizemos recentemente um forte investimento para triplicar a nossa capacidade de produção e ainda concluímos estudos para estimar a dimensão do depósito das minas. Posso, no entanto, afirmar que o nível de produção atingido apenas com o depósito secundário dá-nos a segurança de ter um bom ROIC (return on capital) do projecto.

Líder: Além do ouro, o Grupo investe na exploração de outro mineral como o diamante?

VMD: Em 2020, entrámos na prospecção de diamantes e estudos preliminares de outros minerais, como terras raras, nas províncias do Huambo e do Bié. São duas concessões localizadas ao longo do Lucapa Graben, uma falha tectónica que abriga as maiores minas e depósitos de diamantes de Angola. As duas áreas são extremamente promissoras.

Líder: Em que sectores o Grupo pode vir a investir no curto prazo?

VMD: Um investidor está sempre disponível para avaliar oportunidades que impactem a sua presença num determinado mercado ou sector e que alavanquem os seus resultados. Por

isso, cabe-nos estar atentos às possibilidades que se venham a perfilar em Angola nos próximos tempos. Para já, estamos satisfeitos com o nosso portefólio.

Líder: Diz-se que Angola não é só petróleo e diamantes. A produção de grãos, sementes e fertilizantes são commodities com potencial para consumo interno e exportação. Há algum interesse em investir no sector da agricultura?

VMD: Se mapearmos algum ponto de interesse ou se nos for apresentado algum projecto específico, não descuramos a sua análise, sempre com o objectivo, em alinhamento com o Executivo, de darmos o nosso contributo para a diversificação da economia em Angola e para alavancar a importância do sector primário no país.

Líder: Qual é a contribuição da empresa na geração de empregos directos e indirectos?

VMD: Neste momento, as empresas a que o grupo está ligado empregam cerca de 11.000 trabalhadores directos. Números que são significativos para o bem-estar e desenvolvimento do país e das suas pessoas.

Líder: As reformas em curso levantam temas ligados ao compliance e às boas práticas como o combate à corrupção, ao branqueamento de capitais e ao tráfico de influências. O que acha deste processo?

VMD: Considero essencial para que Angola e quem aqui trabalha seja cada vez mais reconhecido pelos seus pares e pelas instituições financeiras mundiais. O nosso Grupo congratula-se com este caminho, inclusive porque há muito adoptou as melhores práticas do mercado na gestão das suas actividades e participações. Por esse motivo, temos mantido firme a nossa presença, a nossa actividade e os nossos resultados.

Líder: Alguma empresa do Grupo VMD foi alvo de um processo judicial no âmbito dos crimes económicos?

VMD: Nenhuma, felizmente.

Líder: O que podem os jovens empresários angolanos aprender com a experiência de Valdomiro Minoru Dondo?

VMD: Angola tem cada vez mais quadros nacionais qualificados, o que representa um avanço gigantesco para as empresas em termos de desempenho e de gestão de custos. Esta variável é uma das que mais me apraz registar quando olho para a Angola de hoje, porque sabemos que as empresas podem ir ao mercado recrutar localmente, em vez de recorrerem

sistematicamente, e em grande escala, a quadros internacionais. Isto diz muito dos avanços que Angola tem registado como país, como economia e como sociedade.

O que estes jovens podem “aprender” com a minha experiência é que o caminho se faz caminhando, em equipa, com profissionalismo, empenho, dedicação, sem nunca desistir, e apostando sempre na melhoria das capacidades de cada um e na entrega de bons resultados em qualquer função que se desempenhe. Volto a repetir: resiliência, sistematização, vontade e profissionalismo levam-nos onde queremos chegar. Acredito profundamente neste posicionamento, nesta actuação, nesta filosofia e abordagem face ao trabalho que existe para fazer.

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