O CEO do grupo Carrinho, Nelson Carrinho, diz que a companhia está a “alterar o paradigma da importação para o fomento da produção nacional”. Em entrevista ao Jornal de Negócios, explica os efeitos da visita do antigo Presidente dos EUA, Joe Biden, ao complexo industrial do grupo em Benguela.
Nelson Carrinho é CEO do grupo Carrinho desde 2004. Tomou as rédeas do negócio que a mãe, Leonor, iniciou em 1993, e desde então a empresa tem tido um crescimento vertiginoso. O empresário tem uma absoluta confiança no futuro do grupo e diz que entrou na fase 4.0, que é a de “transformar a vida das pessoas”.
O complexo industrial da Carrinho está no terreno, ou seja, é uma obra feita. Qual é a ambição agora?
A nossa ambição número um, hoje, é concluir o nosso modelo, fazendo com que este complexo seja fornecido com produção nacional. O que estamos então a fazer é a alterar o paradigma da importação para o fomento da produção nacional.
Ou seja, passa por apostar na Carrinho Agri e fazer com que os clubes de produtores que estão a criar sejam cada vez mais fortes?
Absolutamente. O que a Carrinho vai ser como empresa no futuro está totalmente dependente da forma como tratamos e nos relacionamos com essas famílias. Por isso, a pergunta que faço todos os dias é esta: a Carrinho tem uma relação justa com essas famílias? O nosso sucesso depende delas.
É uma preocupação social?
Eu diria que é socioeconómica. O que estamos a tentar fazer é praticamente recriar o modelo que já existiu, o da extensão rural. O meu sonho de vida é ter uma organização que tem conhecimento suficiente para fazer uma transição social massiva, tirando famílias do extrato rural da pobreza para as colocar no patamar da classe média. Como empresário, diria que estou na ‘fase 4.0’: é quando entendemos que a única mudança real que podemos trazer é transformar pessoas. Quando construímos o complexo industrial, eu pensava que mudar o mundo era construir grandes coisas, grandes edifícios. Vivi esse momento e fiquei muito feliz. Até que entendi que, se realmente queremos ser transformacionais como organização, precisamos de tocar pessoas, de as transformar. Essa é a empresa com que sonho. Ainda não estou lá. Acho que estamos a três anos agrícolas de ser, provavelmente, a melhor empresa de fomento agrícola do mundo.
Que passos são precisos dar para lá chegar?
O passo número um, o fator determinante, é o tecnológico. É ter um sistema de raiz que permita gerir os nossos produtores. Infelizmente, não entendi isso no primeiro dia que chegou o David Maciel, que é o CEO da Agri. Mas agora, em julho, vamos ter esse sistema.
A visita de Joe Biden à vossa unidade industrial deu-vos visibilidade. Mas trouxe alguma coisa diferente?
O que a visita de Joe Biden nos trouxe foi afirmação. É muito difícil fazermos uma coisa que nunca ninguém fez e muitas vezes, no percurso, temos dúvidas. No final do dia, o Presidente Biden esteve aqui porque a equipa dele veio, confirmou e acredita na visão do que a empresa está a fazer. Entendem que é transformacional. Se o Presidente dos Estados Unidos vem à nossa fábrica e acredita no meu projeto, então até eu acredito mais. Isso é muito importante para a moral de todo o grupo Carrinho. O segundo impacto foi ao nível da ‘governance’ e do ‘compliance’. Significa que a Carrinho é uma ‘clean company’. A Administração norte-americana não teve nenhum receio de ter um evento do nosso complexo e estar do nosso lado.