Entre as diversas regiões do continente africano, a SADC (Comunidade de Desenvolvimento da África Austral) destaca-se como a que reúne as condições mais favoráveis para a implementação bem-sucedida do comércio continental. Esta vantagem não se deve apenas à existência de infraestruturas mais consolidadas em comparação com outras regiões, mas também ao facto de ser na SADC que se localizam os principais corredores logísticos — ferroviários e rodoviários — com potencial real de interligar o continente de forma eficaz.
Neste contexto, a SADC posiciona-se como uma base estratégica para a materialização da Zona de Comércio Livre Continental Africana (ZCLCA), funcionando como ponto de partida para a sua estruturação e dinamização.
Fazendo uma analogia histórica com o chamado “Mapa Cor-de-Rosa”, é possível afirmar que a ideia de conectar o Atlântico ao Índico por via terrestre não é nova. Esta ambição já inspirou, no passado, potências coloniais europeias a tentarem estabelecer um eixo de domínio territorial contínuo entre Angola e Moçambique. A oposição de outras potências à concretização desse plano revela o impacto geoestratégico que tal ligação teria na organização do comércio e no equilíbrio de forças no continente.
Hoje, no entanto, essa visão pode ser resgatada em benefício do continente africano, orientada não por interesses externos, mas por uma agenda de integração, mobilidade e desenvolvimento económico partilhado entre os países membros da SADC e de outras regiões africanas.
A intersecção entre as estradas transafricanas Capetown-Tripoli e Capetown-Alexandria com os corredores do Lobito e da Beira respectivamente, demonstra o potencial da SADC no desenvolvimento do continente Africano.
Fora do transporte de minerios estratégicos necessários para o desenvolvimento tecnológico, o potencial do comércio em diversas áreas é enorme, deixando em aberto uma infinita oportunidade no sector logistico, em que o Luau, na província do Moxico Leste poderá se transformar num hub logístico regional de grande potencial estratégico para países como a Republica Democrática do Congo, Zâmbia e Moçambique. A Zâmbia como um país interior poderá ganhar bastante com dupla ligação a esses dois corredores, se transformando num hub logístico que poderá de alguma forma dinamizar o comércio regional na SADC e no continente, o que também leva a chamar a atenção que, o sector agrícola e agroindustrial deve ‘’correr’’.
O Corredor do Lobito apresenta um potencial mais robusto para transformar-se no eixo estruturante da integração logística da SADC, especialmente se alinhado a projetos continentais como a ZCLCA e a Agenda 2063 da UA. A sua posição geoestratégica, somada ao acesso direto aos recursos minerais críticos e ao envolvimento de atores multilaterais, oferece uma oportunidade única para criar um corredor atlântico–interior–oriental com impacto continental.
Já o Corredor da Beira, embora de importância regional significativa, sobretudo para o escoamento agrícola e apoio aos países sem litoral do sudeste da SADC, possui um alcance geoestratégico mais limitado, mas complementar ao eixo estruturado pelo Lobito, pelo que a implantação dos projectos das estradas transafricanas e as ligações do corredor do Lobito e da Beira virão aumentar as variáveis diferenciais de ambos os corredores, mas com o corredor do Lobito a aumentar significativamente as suas variáveis diferencias, como podemos ver na tabela abaixo.

Comparação Estratégica: Corredor do Lobito vs. Corredor da Beira
Criterio | Corredor do Lobito (Angola) | Corredor da Beira (Moçambique) |
Localização Geoestratégica | Costa atlântica central da África Austral. Liga o porto do Lobito a países do interior como RD Congo e Zâmbia. | Costa do Índico, na África Austral oriental. Liga o porto da Beira ao Zimbábue, Malawi e parte da Zâmbia. |
Acesso Transcontinental | Permite uma ligação oeste-leste com potencial de conectar-se a corredores orientais (ex. TAZARA e Beira), formando uma espinha dorsal transafricana. | Complementa o eixo leste, com possibilidade de conexão a redes que vão em direção ao Índico, mas com menor integração transcontinental direta. |
Infraestrturas existentes | Ferrovias modernizadas (Linha do Lobito), investimentos recentes com apoio de parceiros internacionais (ex. EUA e União Europeia). | Porto em funcionamento, mas infraestrutura ferroviária e rodoviária requer modernização. Alguns investimentos chineses em curso. |
Potencial económico | Facilita o escoamento de minerais (cobre, cobalto) da RDC e Zâmbia para o mercado global. É chave para o futuro da cadeia de valor de energia limpa (baterias). | Escoamento agrícola e de minerais da África Austral oriental. Menor volume de minérios de alto valor comparado ao eixo Lobito–Kolwezi. |
Integração regional SADC | Liga Angola diretamente a centros produtivos da região central da SADC. Pode tornar-se eixo central do comércio intracontinental e da industrialização regional. | Importante para os países do sudeste da SADC. Tem papel complementar, mas mais limitado em termos de alcance estratégico e impacto continental. |
Apoio Geopolítico Internacional | Forte interesse de países ocidentais como EUA, Alemanha e parceiros africanos no seu desenvolvimento como alternativa ao domínio logístico da China na região. | nvestimentos mais concentrados da China, com menor envolvimento direto dos blocos ocidentais em comparação com o Corredor do Lobito. |
Desafios | Segurança na RDC, manutenção da infraestrutura ferroviária, necessidade de políticas de facilitação alfandegária entre países. | Manutenção do porto e estradas, instabilidade política ocasional em Moçambique central, gargalos logísticos. |
O corredor do Lobito tem as maiores variáveis diferencias para se tornar um dinamizador incontornável para o desenvolvimento não apenas da região da SADC, mas também do continente africano e do mundo, tendo em conta o impacto que o mesmo terá no âmbito do comércio internacional.
Benjamim Lukau Gerard
Consultoria Estratégica