As minas de Catoca e Luele aumentaram significativamente as suas quotas de stock diamantífero durante o exercício económico de 2024, como reflexo da baixa procura internacional por diamantes brutos.
A decisão de retenção visou capitalizar uma eventual subida de preços que, no entanto, não se concretizou, resultando em perdas para as operadoras.
Segundo o relatório da Sociedade de Comercialização de Diamantes de Angola (Sodiam), divulgado no Outlook do Sector dos Diamantes 2025, as receitas do quarto trimestre de 2024 beneficiaram da entrada em produção da mina de Luele, em Outubro, bem como de quatro ciclos de produção nos projectos Catoca e Luele.
O preço médio por quilate fixou-se em 142,9 dólares, valor superior ao de 2023, mas ainda abaixo do esperado.
Angola recuperou cerca de 14 milhões de quilates de diamantes no ano, representando 96% da meta estipulada no Plano de Desenvolvimento Nacional 2023–2027.
Destes, 10,1 milhões de quilates foram exportados, 99,7% provenientes da produção industrial, com receitas na ordem dos 1,4 mil milhões de dólares. Em comparação com 2023, verificou-se um aumento de 2,9% no volume exportado e uma redução de 5,1% nas receitas.
O Estado angolano arrecadou 112 milhões de dólares em impostos, dos quais 66,7% correspondem a royalties e 33,3% a Imposto Industrial Antecipado. Ainda assim, a receita fiscal da venda de diamantes recuou 2,35% face ao ano anterior.
A produção industrial manteve-se dominante, respondendo por cerca de 99% do volume e da receita total do sector em 2024. As vendas nos meses de Abril, Julho, Agosto, Setembro e Novembro superaram os resultados de 2023, impulsionadas pelo aumento do volume comercializado e pela venda em leilão de 62 pedras especiais provenientes de várias minas, incluindo Lulo, Uari, Chitotolo, Somiluana, Kaixepa e Catoca.
O projecto Catoca foi responsável por 56,7% do volume total produzido e 38,6% das receitas, tendo participado em quatro sessões de leilão — mais uma do que em 2023. No total, 117 pedras especiais foram leiloadas, arrecadando cerca de 57,8 milhões de dólares por 18,8 mil quilates.
No segmento semi-industrial, dez cooperativas produziram 32,3 mil quilates avaliados em 6,4 milhões de dólares, registando um crescimento de 79,4% em volume, mas uma queda de 2,6% nas receitas.
Em contraste, o mercado de diamantes sintéticos registou vendas excepcionais nos EUA durante as férias, sobretudo na faixa de 1 a 3 quilates, com preços médios entre mil e 3 mil dólares. O mercado chinês, por sua vez, continua estagnado desde a pandemia, sem expectativas de recuperação até pelo menos 2026.
Devido ao excesso de stock e à baixa procura, produtores internacionais como De Beers, Alrosa e Okavango cancelaram vendas programadas. Catoca e Luele suspenderam as vendas por mais de dois meses, esperando por uma recuperação dos preços que não se verificou. Em Novembro e Dezembro, Catoca vendeu quatro produções acumuladas (40 lotes).
O relatório da Sodiam destaca ainda que a fraca rentabilidade e a procura reduzida levaram fábricas de lapidação indianas a operarem com menos de 60% da capacidade, com muitas pequenas unidades a migrarem para o mercado de diamantes sintéticos ou a explorarem outros sectores, demonstrando o impacto prolongado da crise no segmento.