Com receitas líquidas projectadas superiores a 270 milhões USD anuais, Angola posiciona-se para integrar a nova cadeia de valor da energia limpa.
Angola prepara-se para um dos saltos económicos mais estratégicos da sua história recente: a integração na nova economia do hidrogénio e da amónia verde.
Antes de avançarmos, é importante compreender de forma simples o que são o hidrogénio verde e a amónia verde, como se obtêm e para que servem.
O que é o hidrogénio verde e a amónia verde, e como se obtêm?
O hidrogénio verde é um combustível limpo produzido a partir da separação da água (H₂O) em hidrogénio (H₂) e oxigénio (O₂), utilizando electricidade gerada por fontes de energia renovável, como a hídrica, solar ou eólica. Este processo chama-se electrólise. O grande diferencial do hidrogénio verde é que, ao contrário do hidrogénio tradicional obtido a partir do gás natural ou do carvão (que emite dióxido de carbono), a sua produção não gera emissões de gases com efeito de estufa.
A amónia verde, por sua vez, é produzida combinando o hidrogénio verde com o azoto (N₂) retirado do ar, através de um processo químico chamado síntese de amónia. O resultado é a amónia (NH₃), um composto essencial para a produção de fertilizantes agrícolas e também uma forma eficiente de armazenar e transportar energia limpa. Quando a amónia é obtida a partir de hidrogénio verde e fontes renováveis, é considerada um produto livre de emissões de carbono, desempenhando um papel vital na transição energética.
Assim, tanto o hidrogénio verde como a amónia verde representam soluções estratégicas para a construção de uma economia global mais limpa e sustentável.
Com dois projectos em desenvolvimento — capazes de produzir 700.000 toneladas por ano de amónia verde — o país poderá gerar receitas líquidas superiores a 270 milhões de dólares por ano , com impacto fiscal directo superior a mil milhões de dólares em 15 anos. Cerca de 70% da produção prevista destina-se à exportação , reforçando o potencial de geração de divisas e o papel de Angola como fornecedor energético internacional.
Mais do que uma nova linha de exportação, trata-se da criação de um novo eixo económico estruturante, num momento em que a procura global por hidrogénio verde deverá quadruplicar até 2050 .
Os projectos financiados por capitais externos , têm potencial para colocar Angola na linha da frente de um mercado que poderá movimentar mais de 500 milhões de toneladas de hidrogénio e derivados nas próximas três décadas. Com mais de 70% da sua electricidade proveniente de fontes renováveis, sobretudo hídricas , e um potencial solar e eólico superior a 21 GW, Angola detém uma vantagem competitiva difícil de replicar. Não se trata apenas de exportar moléculas verdes. Trata-se de gerar valor interno : novos sectores industriais, empregos qualificados — estimados em cerca de 1.960 postos de trabalho directos e indirectos — e uma base tecnológica que poderá modernizar vastas áreas da economia.
O país necessita de consolidar rapidamente um quadro regulatório específico para o hidrogénio verde, criar instrumentos financeiros de reinvestimento estratégico e, de forma prioritária, investir na formação do capital humano para dar resposta à nova procura industrial. A capacitação técnica urgente — capaz de reduzir a dependência de mão de obra expatriada e alavancar as competências locais — será fundamental para assegurar o sucesso e a sustentabilidade da indústria de hidrogenio verde em Angola.
Angola dispõe de competências consolidadas , sobretudo no sector petrolífero, que podem ser transferidas e adaptadas para a indústria do hidrogénio verde e seus derivados. A experiência em áreas como engenharia de processos, manutenção industrial, operações logísticas e gestão de grandes infraestruturas constitui uma base valiosa para acelerar a criação de talento nacional.
As áreas de tutela devem trabalhar em proximidade com os actuais líderes internacionais do mercado, absorvendo conhecimento e melhores práticas, de modo a estabelecer uma indústria robusta, competitiva e ancorada no conteúdo local.
O momento de formar é premente — tanto no desenvolvimento de competências de raiz, como na conversão de perfis já existentes. Neste contexto, a adopção de modalidades como o on-the-job training e programas de mentoria poderá acelerar significativamente a transferência de conhecimento, complementando as vias tradicionais de formação académica.
Consolidar a base técnica nacional será determinante para garantir que Angola não apenas entra na nova economia verde, mas se afirma nela com autonomia, excelência e impacto.
O progresso requer que saibamos capitalizar oportunidades. O futuro é verde. A oportunidade é real. A decisão é agora.
Yuri Lengue em colaboração com Angelina Monteiro