Introdução
A economia angolana atravessa um momento decisivo. Depois de anos de ajustamentos macroeconómicos, redução do peso da dívida e esforços para diversificação, Angola prepara-se para entrar em 2026 e 2027 com novos desafios e oportunidades. A recuperação dos investimentos produtivos, a necessidade de modernizar infraestruturas e a crescente exigência de gerar empregos sustentáveis colocam o financiamento de longo prazo no centro do debate.
É nesse contexto que os Fundos de Investimento Alternativos (FIAs) surgem como uma solução inovadora, capaz de mobilizar capital e canalizá-lo para áreas estratégicas da economia. Com base em estruturas reguladas e alinhadas às melhores práticas internacionais, os FIAs têm potencial para se tornar verdadeiros catalisadores do desenvolvimento económico e social de Angola.

O que são os Fundos de Investimento Alternativos?
Ao contrário dos fundos tradicionais (Fundos de Investimento em Valores Mobiliários), mais especializados para investimentos em acções, obrigações, repôs e instrumentos similares frequentemente negociados em mercados regulamentados como os da BODIVA, os FIAs permitem investir em ativos menos convencionais, como projetos imobiliários, infraestruturas, energia, logística, agricultura ou até inovação tecnológica.
Essa flexibilidade possibilita financiar segmentos da economia que tradicionalmente enfrentam dificuldades de acesso ao crédito bancário. No caso angolano, onde o sistema financeiro ainda é bastante concentrado e conservador, os FIAs representam uma oportunidade única para alargar as fontes de financiamento e reduzir a dependência do petróleo como motor da economia.
O Papel das Gestoras de Activos no Ecossistema Financeiro
As Sociedades Gestoras de Activos ou simplesmente Sociedades Gestoras de Organismos de Investimento (SGOIC) como são chamadas no nosso ordenamento jurídico, deverão desempenhar um papel transformador, como é o caso da BNS SGOIC, que posiciona-se como uma gestora de activos inovadora no mercado de capitais angolano, autorizada pela Comissão do Mercado de Capitais (CMC) e experiente na estruturação de veículos de investimento sob medida, apostada em criar fundos com foco em impacto económico e social, sem perder de vista a rentabilidade para os investidores.
O desenho dos FIAs responde a três objetivos centrais:
- Canalizar poupança doméstica e internacional para setores produtivos;
- Promover transparência e confiança através de uma gestão profissional e regulada;
- Gerar impacto social positivo, seja pela criação de empregos, seja pela melhoria da infraestrutura económica.
Prioridades para 2026 e 2027
Nos próximos dois anos, os FIAs podem actuar como instrumentos decisivos em áreas estratégicas:
- Habitação e imobiliário: financiar projetos residenciais de padrão médio, acessíveis à classe média emergente, ajudando a reduzir o défice habitacional nas grandes cidades.
- Logística e transportes: apoiar o desenvolvimento de portos, terminais e redes logísticas que aumentem a competitividade regional de Angola.
- Energia e transição verde: investir em projetos de energias renováveis, como solar e eólica, em linha com as metas de sustentabilidade.
- Agroindústria e segurança alimentar: alavancar projetos de transformação agrícola que reduzam as importações e fortaleçam a soberania alimentar.
- Tecnologia e inovação: apoiar startups e iniciativas digitais que possam gerar novos ecossistemas de valor.
Assim, os FIAs como o BNS TUNDAVALA I – Fundo de Capital de Risco de Subscrição Particular (em comercialização exclusiva para investidores Institucionais), autorizado a captar até Kz 10 mil milhões de Kwanzas (~ $ 10 milhões de Dólares) e o Fundo DIBATA DIAME I – Fundo de Investimento Imobiliário (em fase de estruturação) podem tornar-se catalisadores de um modelo de desenvolvimento mais resiliente, reduzindo a dependência do petróleo e preparando Angola para uma nova fase de crescimento sustentável, assente na pequena e média indústria, mais profissionalizada e mais facilmente gerivel e replicável geograficamente pelo país a dentro, distanciando-se no modelo tradicional de financiamento de grandes projectos e de tamanha complexidade de gestão e manutenção, tornando-se facilmente em elefantes brancos.
Ao analisarmos as contas nacionais de 2024 publicadas pelo Instituto Nacional, os resultados não são surpreendentes de todo, mas a estruturação de soluções para reverter o quadro de declínio estrutural que se regista desde 2018, pode ser um divisor de águas e a BNS, está na vanguarda para recolocar o capital financeiro ao serviço do investimento estrutural da nossa economia.
Benefícios para a Economia Angolana
Os efeitos positivos da expansão dos Fundos de Investimento Alternativos podem ser observados em três níveis:
- Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF)
- O aumento dos investimentos estruturais é essencial para modernizar a economia. Os FIAs ajudam a elevar a taxa de FBCF, historicamente baixa em Angola, aproximando-a dos padrões regionais e internacionais.
- Criação de Emprego e Inclusão Social
- Ao financiar setores como habitação e agroindústria, os fundos geram empregos diretos e indiretos, além de dinamizar cadeias de valor locais.
- Estabilidade Macro e Diversificação
- A diversificação das fontes de financiamento e a redução da dependência do setor petrolífero contribuem para maior resiliência económica e estabilidade fiscal.
Confiança e Transparência: A Regulação como Pilar
A supervisão da CMC garante que os FIAs funcionem com elevados padrões de governança, auditoria e prestação de contas. Isso é fundamental para actrair não apenas investidores locais, mas também parceiros institucionais estrangeiros, como fundos de pensões, seguradoras e bancos de desenvolvimento.
Desafios a Superar
Apesar do enorme potencial, existem desafios que não podem ser ignorados:
- A necessidade de educação financeira para ampliar a base de investidores domésticos;
- O fortalecimento do mercado secundário, para garantir liquidez às participações;
- A implementação de políticas públicas complementares, que alinhem incentivos fiscais e regulatórios.
A superação desses obstáculos dependerá de uma estreita cooperação entre o sector público, gestores de fundos e investidores privados.
Conclusão
Angola encontra-se perante uma oportunidade histórica. Os Fundos de Investimento Alternativos, ao canalizarem poupanças e investimentos para sectores vitais, podem acelerar a transformação estrutural da economia em 2026 e 2027, períodos críticos para transformação de Angola que teremos nos próximos 10 anos.
Mais do que um instrumento financeiro, os FIAs representam um modelo de desenvolvimento sustentável, capaz de unir retorno para investidores e impacto positivo para a sociedade. Se bem implementados, poderão marcar o início de uma nova fase de crescimento resiliente, menos dependente do petróleo e mais focada em inovação, inclusão e competitividade.
Por Inocêncio das Neves, Fundador e PCA do Grupo BNS


