A jovem economista angolana Sandra Mindello, doutorada em Economia Africana pela Universidade de Harvard aos 29 anos, veio a público com duras críticas às recentes justificações dadas por economistas e responsáveis do governo angolano quanto à subida do preço dos combustíveis no país.
Para a especialista, comparar directamente o valor da moeda nacional com moedas estrangeiras para sustentar os aumentos é “um erro técnico e uma injustiça social”.
Em conferência realizada no Centro de Estudos Económicos e Sociais de Luanda, Mindello afirmou: “Equiparar o Kwanza ao dólar ou ao euro para tentar justificar o preço dos combustíveis não faz sentido quando se ignora o poder de compra real da população angolana. Os nossos salários são em Kwanzas, e o seu valor tem vindo a cair continuamente”.
A economista destaca que há uma desconexão preocupante entre a teoria usada por alguns economistas nacionais e a realidade vivida pela maioria dos angolanos:
“Um cidadão em Lisboa ou em Paris pode pagar mais caro pelos combustíveis porque o seu salário o permite. O angolano médio, não. Comparar preços sem contextualizar o rendimento médio da população é desonesto e perigoso”, recorda.
Sobre a desvalorização do Kwanza, diz que a inflação crescente e o enfraquecimento do Kwanza frente às principais moedas internacionais, os consumidores já enfrentam um custo de vida elevado, o que torna qualquer aumento de combustível um golpe ainda maior ao seu orçamento.
Mindello lembra que Angola, apesar de ser um produtor de petróleo, depende fortemente da importação de combustíveis refinados e possui uma estrutura económica ainda frágil, o que impede comparações com economias mais desenvolvidas.
“A subida dos combustíveis não é apenas uma questão de mercado” alerta Sandra Mindello, “mas sim uma questão social. O transporte, os alimentos e outros bens essenciais são afectados directamente, pressionando ainda mais as famílias com baixos rendimentos. Quando o cidadão tem que escolher entre pôr combustível para chegar ao trabalho ou comprar comida para a casa, estamos a falhar enquanto sociedade”, disse.
Alerta que medidas abruptas, sem escuta social e sem mitigação, podem gerar tensões sociais. “A história recente de Angola já nos mostrou que a instabilidade surge quando as pessoas perdem a esperança.”
Para Sandra Mindello, existem formas mais equilibradas de abordar a crise dos combustíveis: Subsídios Direcionados e Reforma Fiscal Justa: “Precisamos de proteger os mais pobres. Subsídios inteligentes, temporários e bem aplicados, podem fazer a diferença.”
A economista termina o seu argumento com um apelo: “Não se governa apenas com gráficos e teorias copiadas de livros estrangeiros. Governa-se com empatia, com conhecimento da nossa realidade, e com coragem para fazer diferente. A economia tem que servir as pessoas, e não apenas os mercados”, conclui.
Deve ser nomeada ministra das Finanças de Angola e ser convidada nos debates da FMN de Alves Fernandes aos sábados.
Concordo, com a Sra Mindello.
Bem dito senhora Mindello é muito bom saber que existem pessoas como a senhora que procuram tomar decisões baseando-se na real situação que nós angolanos vivemos
Não é verdade que o governo justifica a retirada da subvenção para equiparar o kwanza com alguma moeda estrangeira. o argumento principal do governo, que também foi do FMI e do Banco Mundial, tem sido fiscal e estrutural. Reduzir o peso dos subsídios sobre o orçamento, combater a distorções no mercado e o contrabando, e de igual modo redirecionar os recursos para sectores essencias como a saúde, educação bem como a proteção social.
Economistas que afirma que a retirada dos subsidios está a ser feita para dar paridade ao kwanza em relação ao dolar ou qualquer outra moeda estrageira, é uma má interpretação técnica ou uma simplificação excessiva.