O sistema bancário angolano encontra-se num ponto de viragem, com previsões de fusões, maior rigor regulatório e necessidade de aumentar o crédito produtivo até 2030.
A conclusão foi apresentada esta manhã por Paulo Moreira, Country Leader da Forvis Mazars em Angola, durante o XV Fórum Banca, em Luanda.
Segundo o especialista, cerca de 50% da população continua fora do sistema financeiro formal, o que limita a capacidade dos bancos em captar recursos e financiar a economia real.
Apesar de ser um sector altamente rentável, a banca angolana direciona ainda grande parte do crédito para consumo interno e para o próprio staff bancário, com reduzido impacto no tecido produtivo.
Paulo Moreira alertou que a sobrevivência e relevância das instituições dependerão da sua capacidade de apoiar a criação de riqueza e promover verdadeira inclusão financeira.
“O futuro da banca passa pela concessão de mais crédito produtivo, pelo apoio à criação de riqueza e pela verdadeira inclusão financeira. Se isso acontecer, o país inteiro beneficiará e acrescentará valor”, destacou.
O responsável antecipou ainda uma fase de consolidação no sector, com fusões e concentrações bancárias no horizonte. “Há bancos que não têm dimensão suficiente para continuar a operar no quadro regulatório que se avizinha. A regulação vai apertar e nem todos vão resistir sozinhos.”
Este movimento é considerado inevitável face aos novos requisitos de compliance, capitalização e digitalização. A pressão para modernizar os modelos de negócio e expandir a inclusão financeira deverá acelerar estas mudanças.
Nos últimos anos, os bancos têm investido na digitalização e na expansão territorial, incentivados pelo Banco Nacional de Angola, que definiu indicadores mínimos de acesso bancário por província.
Ainda assim, a Forvis Mazars alerta que fatores como inflação e flutuação cambial continuam a introduzir incertezas no panorama económico, dificultando projeções de longo prazo.
Apesar das reservas, a consultora acredita que a banca terá um papel-chave no crescimento económico do país, desde que esteja preparada para os desafios. “Ou evolui e assume um papel transformador na economia, ou ficará refém da sua própria estagnação”, concluiu Paulo Moreira.