No planeamento estratégico de um país, na vontade de expansão para mercados externos, é fundamental ter-se em consideração os países fronteiriços. A partilha de fronteiras, de forma natural, leva a relações económicas e diplomáticas que se requerem fortes e prioritárias, o que em teoria faria da República Democrática do Congo (RDC), República do Congo (Brazzaville), Zâmbia e Namíbia, os nossos parceiros económicos por excelência. Mas dentre todos os vizinhos de Angola, um em particular chama a atenção: o Congo. Por muitos anos e para muitos, se não mesmo a maioria, o Congo foi sinónimo de confusão, desordem e anarquia. Esta visão míope que já vem desde “tempos” passados, fez o empresariado angolano não encaixar milhares de milhões de dólares de um mercado de mais de 99 milhões de habitantes, com perspectivas de crescimento anual da população na ordem dos 3,14%, sendo a nona maior taxa mundial, que se encontra bem aqui ao lado, com infinitas possibilidades de negócios em sectores como a mineração, o petróleo e a energia, as telecomunicações, o comércio, as infra-estruturas, a construção civil, os transportes, a agricultura, e a lista seguiria crescendo, à qual se pode juntar também a cooperação nos sectores estratégicos da educação e da saúde.
Angola e a RDC possuem a 13.ª fronteira terrestre comum mais extensa do planeta, com 2511 quilómetros de extensão, e como outro elemento diferenciador, a sua fronteira a sul com Angola é a mais estável. O âmbito económico pode ser ainda potencializado devido à sua localização estratégica na África Central, fazendo fronteira com outros nove países.
Para termos uma ideia, somente este ano foram realizados tanto o primeiro como o segundo Fórum Económico Angola-RDC. Na ocasião, segundo o Ministério da Economia e Planeamento (MEP), os produtos do PRODESI-Programa de Apoio à Produção, Diversificação das Exportações e Substituição das Importações, são os que mais têm sido exportados, demonstrando a oportunidade que o país tem perdido.
Tudo começa na diplomacia
Com a sua vasta população e perspectivas anuais de crescimento para quase o triplo, um dos grandes desafios do Congo é encontrar alimentos e Angola poderia traçar uma estratégia a médio prazo para alimentar este país-vizinho, o que poderia ser um factor
diferencial para a nossa diversificação da economia nas exportações não-petrolíferas.
De acordo com dados do MEP, em 2021, o volume das exportações para a RDC correspondeu a 60 milhões de dólares, e, em 2022, a 81 milhões de dólares, representando apenas 0,16% do total das exportações angolanas naquele ano, o que demonstra claramente que ainda estamos a anos-luz de atingir saltos significativos na balança comercial que beneficiem a nossa economia. Estes números tao pequenos para o potencial existente reflectem uma realidade que deve ser aceite caso queiramos melhorar, pois o comércio entre os dois países está muito informal.
Além de Angola e a RDC serem membros da CEEAC-Comunidade Económica dos Estados da África Central e da SADC-Comunidade de Desenvolvimento da África Austral e existirem dentro desses organismos multilaterais ferramentas jurídicas que podem ser aproveitadas, tal como o mercado de livre comércio, Angola e a RDC assinaram um acordo de cooperação e assistência mútua em matéria aduaneira para fortalecer a fiscalização, facilitar o fluxo do comércio internacional e gerir as infracções fiscais. Mas existe muito trabalho a ser feito. O soft power deve ser implementado, mas como vamos fazê-lo? Devemos fazer um trabalho de casa profundo, pois na relação entre os Estados tudo começa na diplomacia.
Angola deve rapidamente mudar a estratégia de como vê o Congo e trabalhar para eliminar os gargalos, de modo a tirar vantagens do potencial deste grande e rico mercado para o nosso empresariado.
Temos de ser ‘’Pensudos” e ‘’Djobar” a sério para agarrarmos a grande oportunidade que é ter o vizinho Congo aqui do lado.
Texto: Benjamim Lukau Gerard
Uma ótima visão. Seria uma mais valia para Angola olhar para os países com os quais fazemos fronteira e identificar grandes oportunidades de canalizar dinheiro para o país.